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sábado, 28 de março de 2015

Primeira Imersão por Melissa Dornelles

Trabalhar palhaço é trabalhar a si mesmo. Pra mim, o palhaço não é personagem. Vejo mais como uma lente de aumento da alma de cada ser, que é único. No final de fevereiro/2015, passamos 10 dias consecutivos fazendo só isso: investigando nossos palhaços e tateando a temática do amorXsolidão. E que privilégio estar fazendo isso entre amigos. "A felicidade só é real quando compartilhada"...faz tanto sentido. Num caldeirão onde a tragicomédia é o combustível, o amor e a solidão se tornaram dia a dia fontes de inspiração e criação. Nossa imersão foi de muita entrega e abertura. Nenhuma certeza, apenas fluidez. Hora das musas, de nomearmos signos e significados. Acho um tesão esta primeira fase do processo criativo. Onde a essência do trabalho já está ali, mas não há nada de concreto ainda. A busca consciente por autenticidade e verdade, e o inconsciente trabalhando nos raros momentos que tínhamos para descansar o corpo.

Foto: Natasha Mota


Um dia sonhei que estava mergulhando num poço de águas profundas. Universo escuro com texturas leves, bordados, purpurina. A cada vez que subia na superfície para respirar, via borboletas que transmutavam meus medos. Meu corpo foi ficando cansado. Exausto na verdade. Me sentia com 80 anos de idade. As limitações físicas dos velhos provocam sentimentos que muitas vezes são difíceis de lidar. Raiva. Tristeza. Preguiça. Ansiedade. Transe. Um lampejo de fé me fez tomar fôlego para dar o último mergulho. Lá no fundo do poço tinha uma mala velha. Cheia de coisas velhas. Trouxe ela pra fora e só então percebi o peso de chumbo que ela tinha. Coisas velhas pesadíssimas, que percebi que carrego há tempos. E bem lentamente comecei a tirar as coisas, uma a uma, sem pressa, mas com convicção. De certa forma estas coisas foram úteis por um tempo, mas agora já não são mais. Um tijolo(ou será meu coração?), um bauzinho cheio de fotos, uma panela enorme, uma boneca, um mapa, uma pluma.....fechei a mala agora vazia. E voltei da primeira imersão em Campinas assim como quem acorda de um sonho muito real. Poucas certezas, mas muita entrega e muito amor. Acho que isso já é um bom começo.

Foto: Natasha Mota



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