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sábado, 21 de março de 2015

Primeira imersão por Fábio Castilhos

Aqui estou, em frente à folha branca, ou melhor, a tela branca do computador, tendo que descrever um processo de imersão e todas as distrações mundanas me chamando. Tendo que falar de um processo, no qual essas distrações praticamente não existiam. Foram dez dias em Campinas, focados apenas no trabalho criativo. Seis, oito, nove horas em sala de ensaio. Brincando, suando, jogando, mergulhando num abismo de possibilidades.

Eis a imagem que define para mim o início de um processo criativo: um abismo de possibilidades. Jogar-se em direção ao desconhecido. E nunca se sabe exatamente a profundidade e onde acaba esse salto. Pode ser numa pocinha de água enlameada como também podemos acabar mergulhando num lindo lago cristalino e profundo. Pequenas metáforas para fugir, escapar do que realmente interessa. E o que realmente interessa? Qual é a tua necessidade? Esta última pergunta nos foi lançada pela diretora Luciane Olendski e respondida em forma de uma cena/performance. Dramático e patético rasguei meu peito e arranquei meu coração, que feito bexiga, estourou. 

Foto: Natasha Mota


Escrevo, e enquanto escrevo procuro inspiração no meu caderno de anotações dos ensaios, ou como gosto de chamar, no meu diário de bordo. Acho anotações que foram feitas sem julgamento, deixando o fluxo do pensamento agir. Peço licença para reproduzi-las:

“Entregar-se ao desconhecido, chegando ao limite.
Qual limite? Limite... Fim da vida. Romper o limite.
Quem determina o limite(?)
Corpo-pensamento. Ação. 
Suor, cansaço, dor.
Superar, sussurrar. Perder o juízo.
Juízo, julgamento, demência.
Estado vegetativo.
Estados, sentimentos, energias.
O corpo que presentifica.
Comunhão. Corpo, mente, coração.”

Um abismo, que vira uma estrada, um caminho. Apenas o começo, apenas os primeiros passos. E como diz uma música dos Los Hermanos, “é preciso força pra sonhar e perceber que a estrada vai além do que se vê”.

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